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Sobre Arte Contemporânea


Não é possível falar de arte contemporânea sem deitar os pés no período imediatamente anterior a este, que foi chamado de arte moderna. No Brasil, esse movimento obteve seu ponto culminante na "Semana de Arte Moderna" em 1922. Após a Segunda grande guerra mundial, uma onda nacionalista arrastou-se pelo mundo, que após tanta barbárie, viu-se despido de sua alto estima, indo em busca de suas identidades nas práticas tradicionais de suas culturas.
No Brasil, Mário de Andrade embrenhou-se pelo sertão custeado pelo estado, fazendo registros de imagens e sons pelos interiores. Os artistas brasileiros, incorporaram temas folclóricos em suas obras, tanto nas artes plásticas quanto musicais e teceram críticas muito severas à toda produção que não se enquadravam nestes moldes.
Como exemplo desse fato, podemos observar a de crítica de Monteiro Lobato dirigida à Anita Mafaltti, que tendo tido contato com o impressionismo alemão em sua viagem à Europa, fez uso de elementos dessa técnica que tendia do grotesco ao caricatural, tais elementos podem ser observados em seu "retrato de boba".
Lobato escrevera que a única diferença da obra de Anita Mafaltti, daquelas feitas nos manicômios, como terapia é a de os loucos fazerem uma arte sincera.
Na música o mesmo aconteceu com a carta escrita pelo compositor Mozart Camargo Guarnieri, endereçada ao Prof. Koellreutter, que também vindo da Alemanha, aluno de compositores que se utilizavam da técnica de composição dodecafônica, passou a ensiná-la a seus alunos, dentre estes Guerra Peixe, que antes era aluno de Guarnieri.
Ainda em 1917 na França, Marcel Duchamp chocou o público com sua "Readymade" – A fonte – um urinol que, fora de seu ambiente usual, passara a ser visto com outros olhos. Este acontecimento tornou-se marcante, na medida em que Duchamp propõe que qualquer objeto pode ser arte, questionando assim, os espaços pré estabelecidos onde a arte poderia estar presente e também as formas de sua presença, inspirando os artistas a ampliarem seu conceito de espaço reservado para a arte e incorporarem nela novos sentidos e novas idéias que não se restringiam às formas, mas traziam consigo obras para serem vividas, ocasionando outras sensações e sem lugares fixos.
Ainda no século XX, as várias manifestações estéticas que já se expandiam, passaram a não caberem dentro do que propora o modernismo. Os vários estilos, movimentos e técnicas tornaram-se ainda mais difíceis de serem definidos sob a guarda de uma única vertente.
De maneira que passou se a chamar de arte contemporânea a arte que se dispôs a usar materiais inusitados, lançando mão de idéias, no sentido de quebrar paradigmas vigentes. Não significando portanto, que toda a arte produzida a partir de então passou a ser considerada arte contemporânea, pois este termo quando aplicado à arte, vai além de definir o que vem sendo feito agora, pois nem tudo que é feito agora no campo da arte é arte contemporânea, assim como não é prerrogativa de gente jovem, que em grande parte carecem de maturidade filosófica.
Sobre a natureza da arte contemporânea o fotógrafo TUNGA escreveu uma dedicatória em seu livro com os seguintes dizeres:
"O livro é especialmente dedicado àqueles que trocam o que pode haver de estimulante na inquietude e no desconcerto proveniente da incompreensão de algo pela sensação de estarem sendo enganados ou mesmo insultados por ele. A esses a lembrança de que não se deve cobrar transparência de um livro escrito em língua que desconhece ou não se domina. Porque então cobrar isso da arte, se arte é expressão em toda a sua potência – além da forma e significado da expressão que se emprega quotidianamente, além da realidade que nos é ofertada a cada dia, cujos limites se fecham antes de até onde possa ir a imaginação?"
Para explicitar o conceito e a aplicação desse tipo de arte na música, passarei a descrever a análise de uma composição escrita e pensada por Hans-Joachim Koellreutter, que nasceu na cidade de Freiburg, Alemanha em 1915 e conforme mensionado anteriormente, foi alvo de severas críticas por parte da corrente de compositores nacionalistas, quando introduzira a técnica de composição dodecafônica, ao qual se aplica o termo de arte contemporânea, pois suas idéias eram embasadas em um substrato filosófico de onde emanavam o desejo e a preocupação em manejar o material humano através da música. O objetivo para onde convergia seu trabalho eram as pessoas de seus alunos e a transformação social a ser operada através da arte.
Para tanto optei por tratar de uma única obra de Koellreutter, através de uma entrevista a uma pessoa que esteve próxima a ele na época em que foi feita a gravação de uma obra que resulta de seu pensamento filosófico e técnica composicional.
Explanação de Gerson Frutuoso
A obra analisada a seguir é ÀCRONON (1978-79)– sua partitura foi escrita sobre uma esfera.
Gerson Frutuoso é atualmente professor de violoncelo e contrabaixo acústico no Centro de Música do SESC Vila Mariana e também na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, onde ministra aulas de contrabaixo.
O Prof. Gerson, integrou a equipe que convidou Koellreutter para desenvolver uma série de palestras no SESC Consolação e que resultou na gravação de um CD, no qual está presente a composição ÀCRONON. Ele, também estudou com Koellreutter e discorreu sobre a obra com muita propriedade.
À do À grego– vem do À privativo
Priva a palavra a que precede do seu significado, dando o sentido de transcendência ao sentido da palavra a que antecede.
Ao contrário do latim, que nega o sentido da palavra a que precede.
CRONON – Vem do grego cronos que significa tempo.
Dessa forma àcronon está privando o sentido do termo cronos (tempo cronológico, contado, seqüencial), dando-lhe o sentido de transcendência ao tempo medido e passando a idéia de consciência do tempo ontológico. (consciência do ser).
CRONOS – É na mitologia grega aquele que coloca a ampulheta.
SATURNO - É a versão romana do deus Cronos.
Seu significado é: A manifestação do fogo que ilumina
Sat – iluminado, luz
Ur – fogo
On - Manifestação
A ESFERA
É a forma da perfeição que dá a idéia de um contínuo (Do grego Aion)
12 partes de 30º totaliza nos 360º da esfera.
Ela é portanto a expansão do ponto, que por sua vez é a retração dela.
Tudo tem um início a partir de qualquer ponto, o ponto de partida pode estar em qualquer parte. Não está aprisionado ao tempo.
O círculo é conjugação das dimensões(multidimensional), o ponto nega o tridimensionalismo, é unidimensional.
IDADE MÉDIA
Canto gregoriano é unidimensional, uma linha que não está fragmentada
RENACENÇA
Um ponto de partida e um ponto de chegada
Contraponto modal imitativo
Vozes convivêndo em harmonia, princípio da verticalidade.
BARROCO - Bach
Ponto de convergência
Ponto de fuga
A tonalidade
IMPRESSIONISMO – POLITONALISMO/POLIMODALISMO Vagner/Bartok/Stravinsk
A tonalidade começa a se dissolver
ATONALISMO – Shoemberg/ Webern/P. Handemith
A tonalidade está completamente dissolvida.
ÀCRONON
Percepções guestálticas, onde as partes estabelecem relações com o todo e o todo com as partes.
Aponta a multidirecionalidade do tempo.

"Desta forma Koellreutter cria, no final da década de setenta, a técnica de composição planimétrica. Ele próprio define sua estética como estética do impreciso e do paradoxal. "Do impreciso", porque busca transcender o rigor (mortis) que se apoderou da música racionalista ocidental. "Do paradoxal", porque reconhece a inércia imanente aos extremos dicotômicos e dualistas do velho paradigma mecanicista." (Carlos Kater, 2001)
A esfera pode ser a definição perfeita para o sentido do que vem a ser a arte contemporânea...
A expansão do ponto...
E porquê não o ponto?
O ponto de partida, a partir de qualquer parte....
A liberdade....
Livre... do tempo e do espaço.....no tempo e no espaço..........


Liebe Lima





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