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Arte na Pré-História

Para falarmos de arte em qualquer período da história humana é necessário indagar sobre o significado desta palavra para então começarmos a pensar conceitos que a comporte e descreva. A estética tem se ocupado em discernir, descobrir, elucidar as propriedades que a arte possa ter, através de conceitos que ao longo da história tornaram-se vertentes paralelas, que se substituíam a cada elemento essencial que deixava de ser contemplado em suas teorias conceituais e por isso, se transformaram em decorrência de questionamentos sem respostas e completude, sem contudo, jamais deixar de buscar uma definição inquestionável sobre o que é arte e o que não é arte.
As vertentes antes mencionadas, são teorias que se propõe a dizer quais são as propriedades definidoras da arte, formular a natureza da arte por meio de uma definição conceitual e porquê não dizer filosófica. Cada uma dessas teorias tomam para si a verdade e o poder de distinguir entre as obras boas e ruins.
Entre tantas citarei algumas a seguir:
Formalismo
Voluntarismo
Emocionalismo
Intelectualismo
Intuicionismo
Organicismo
Representacionalismo
Ora, como aplicaríamos tais teorias à produção artística de nossos antepassados, os neandertaus? Que viveram neste planeta em tempos remotos, porém nos legaram a história de sua presença em registros que não se apagaram apesar do tempo. Será que a propriedade essencial para eles era de que durasse eternamente?
Dentre estas teorias que não cabem ser discutidas aqui, o neo-representacionalismo talvez se aproxime de uma definição sobre a arte que será apresentada neste texto, pois para ele, uma obra de arte precisa ter um conteúdo semântico, que fale de algo, que tenha um tema, um significado, que diga algo sobre alguma coisa. Nesse sentido a arte na pré-história estaria de alguma forma definida. As manifestações artísticas deste período são consideradas aquelas que antecedem o advento da linguagem e se subdividem nos períodos Paleolítico, Mesolítico e Neolítico.
O período paleolítico refere-se a era da pedra lascada e a mais antiga produção artística que se tem conhecimento, teve início há cerca de dois milhões de anos e se estendeu até oito mil anos a. C.. A descoberta de achados pré históricos só veio a acontecer no início do século XX. As peças encontradas foram consideradas de aparente maturidade artística, o que aliás provocou grande surpresa na classe especialista, por se tratar de um momento embrionário da história humana.

Machados, Acheulense, Inglaterra.
Foram encontrados instrumentos de pedra talhada, objetos de decoração, jóias para diferentes partes do corpo, pequenas imagens que representavam imagens femininas ou de animais e também pinturas em paredes com temas de caça e figuras isoladas de animais e caçadores.
Dentre as esculturas encontradas as que se tornaram mais conhecidas foram as chamadas "Venus" indicadas como prováveis totens usadas em cultos à fertilidade e sexualidade. Estas figuras apresentam características semelhantes entre si; são representações do corpo feminino em traços marcantes, traduzindo-se em seios, ventre e ancas volumosas, contrastando com o formato delicado das pernas e braços e o tamanho pequeno da cabeça.

Venus de Vestonice Venus de Laussei Venus de Tan-Tan Venus de Willendorf

Também as pinturas são igualmente admiráveis, foram feitas em cavernas paredes externas de pedra, nelas são representados vários animais como mamutes, cavalos, bois e veados. Nestas pinturas, seus autores aproveitava-se da irregularidade natural das pedras para obterem a sensação visual de volume em seus trabalhos. O homem paleolítico se aproxima muito das formas reais da natureza. Por isso sua arte é chamada pelos especialistas de naturalista. Os materiais utilizados são os mais diversos, tais como carvão, terra, sangue, excrementos, além de osso oco usado para pulverizar tinta.
Contorno de mão na caverna de Peche Merle, França.

Pintura de bisonte na caverna de Altamira, Espanha.

Nisso a caverna em Altamira na Espanha é considerada até hoje uma das maiores descobertas da história da arte. Esta caverna foi encontrada em 1879, sendo o primeiro conjunto pictórico pré-histórico de grande extensão encontrado, naquela ocasião houveram grandes reservas em relação à sua autenticidade, pois os animais ali desenhados são de um impressionante realismo. O nome que se dá a estes registros de pintura é arte rupestre, pintura rupestre ou ainda gravura rupestre. Em razão dos materiais utilizados para pintar serem a base de sangue e excrementos humanos, acredita-se que elas tenham significados xamãnicos. Algumas teorias chegam a especificar que as pinturas seriam feitas por xamãs que se retiravam para a escuridão das cavernas, entrariam em estado de transe e pintariam as imagens de suas visões com intenção de obterem poder sobre as figuras ali representadas.
Uros representados em cavernas de Lascaux, França.

Daí a explicação para a exatidão virtuosística alcançada pelos pintores da era paleolítica, a pintura precisava ser exatamente igual ao original para serem alcançados os objetivos mágicos. No início ao homens não viviam em sociedades e não praticavam a agricultura, a sobrevivência era mantida com a coleta, caça e pesca. Também não fixavam moradia, eram nômades, estes fatos levaram os pesquisadores a pensar que o objetivo principal era a sobrevivência, dada as dificuldades circunstânciais da natureza.
Tudo indica que a arte teria aí um papel funcional, ou um meio de luta pela alimentação e subsistência, dotada de funções pragmáticas visando objetivos econômicos. Além das circunstâncias sociais outros fatores afirmam este pensamento, por exemplo o fato de alguns desenhos serem sobrepostos por outros, caso fossem feitos para apreciação isso dificilmente aconteceria, além de que provavelmente existissem lugares mais adequados que outros para a prática de magia.
Sejam lá quais forem os objetivos dos homens ao executarem estas pinturas, foi também através delas que o homem contemporâneo acessou informações que permitiram reconstruir partes de uma história perdida no passado. Tornou reflexível o pensamento sobre o primitivismo e questionou se de fato traços tão nítidos, desenhos tão bem projetados, que chegaram a se utilizar da textura das paredes para darem aspecto de profundidade às figuras, se originariam mesmo de homens macacos como os considerava Darwin?
Émille Cartailhac, um dos mais respeitados historiadores da pré-história no final do século XIX, acreditava que as pinturas haviam sido forjadas com intuito de ridicularizar Darwin. Porém, outras descobertas confirmaram sua autenticidade e indicaram um alto nível de capacidade artística dos humanos do paleolítico superior e dão mostras de sua cultura.
Os sítios mais estudados até então, situam-se na europa, em especial na França e norte da espanha, porém se estende por todo o continente e para além dele na África, austrália e Sibéria. As localidades que mais se destacam são:
Lascaux - França
La marche, perto de Lussac-les-chateaux – França
Chauvet-Pont-d’Arc, perto de Vallon-Pont-d’Arc – França
Altamira, perto de santillana del mar, Contábria – Espanha
Vale do Rio Coa – Portugal (fundamental no estudo do Cro-magnon, Neandertal e o Mazouco.
Passado o período paleolítico começa uma transição para o período neolítico que chamou-se Mesolítico ou pedra intermediária, tal transição se manifestou de maneira mais evidente nas regiões que sofreram maiores efeitos das glaciações, o fenômeno que acompanha estas culturas é a tendência para as formas microlíticas e geométricas. Na opinião de Arnold Hauser, esta foi a primeira modificação estética de toda a história da arte.
"...Foi esta a primeira modificação estilística de toda a história da arte. Só a partir de então a atitude naturalista, plenamente aberta ante a experiência, cedeu o passo a uma estilização estritamente geométrica em que o artista tende a colocar-se à margem da realidade empírica. Em lugar de representações fiéis à natureza, onde se revela o cuidado paciente dedicado a reprodução dos pormenores do objecto, encontraremos, de agora em diante, por toda parte, sinais esquemáticos e convencionais, que sugerem mais do que reproduzem, como se fossem hieróglifos..." (Arnold Hauser, 1989- p. 37)

O passo revolucionário foi dado na medida em que o homem passa a produzir seus alimentos, a domesticar animais e colocá-los a seu serviço com a prática da agricultura e do pastoreio, deixando assim de viver em vias de dádivas e dívidas da natureza, marcando a partida para a conquista e domínio desta. Surge então a organização social e participativa, onde antes indivíduos isolados passam a viver em comunidades e o que antes era uma preocupação individual em sobreviver passa a ser o bem comum, a divisão das tarefas domésticas entre o masculino e feminino, deixando a cultura de subsistência e passando a praticar a provisão e o planejamento a cerca dos períodos de plantio, colheita desenvolvendo formas de armazenagem de alimentos. Neste momento as puras representações de objetos e animais passam a ser representações simbólicas e abstratas, passam a traduzir uma idéia e elementos conceituais da imaginação do artista. O ponto de vista econômico modificado, permitiu ao homem ampliar também as perspectivas filosóficas, indo além da realidade concreta circundante. Assim, observamos que o estilo geométrico corresponde às características sociais que se estendeu a partir de 8.000 a.C. até 500 a.C. quando termina o período Neolítico e se inicia Antiguidade.
"...Com a idade Neolítica e o estilo formalista ornamental e geométrico entra num período de hegemonia indiscutida, como nunca mais viria a suceder en qualquer período histórico, a qualquer corrente artística, nem sequer ao próprio formalismo..." (Arnold Hauser, 1989- p. 43)

Bibliografia
VISIONI, André Luiz. Anais do III Fórum de Pesquisa Científica em Arte. Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba, 2005.
Disponível em: . Acesso em: 16 de março de 2007.
WEITZ, Morris. O papel da Teoria na Estética. Disponível em : < www. Virtual.udesc.br/~wfil/estetica.htm-49k. Acesso em: 16 de março de 2007.
WIKIPEDIA – Arte do Paleolítico. Disponível em: . Acesso em: 16 de março de 2007.
WIKIPEDIA – Arte Rupestre. Disponível em: . Acesso em: 16 de março de 2007.
WIKIPEDIA – Arte do Neolítico. Disponível em: . Acesso em: 16 de março de 2007.
HAUSER, Arnlold. História Social da Arte e da Cultura. Lisboa : Vega Estante Editora, 1951- 214 p.

Por Liebe Lima

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