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Carl Orff

Apresentação

O motivo pelo qual me senti interessada em escrever sobre o método Orff na disciplina de educação musical, foi uma afinidade que senti, quando tive a oportunidade de conhecer o trabalho de pessoas que se utilizavam do método em sala de aula, obtendo resultados muito positivos.
Além de observar a prática destas pessoas, a minha afinidade se deu na falta que senti, em meu processo de aprendizagem, de um trabalho sensorial que antecedesse o trabalho intelectual de leitura. Concluindo então, através da minha própria experiência de aprendizagem, uma afinidade com um trabalho que propõe o movimento corporal aliado ao aprendizado da linguagem usando também a improvisação.
A proximidade de pessoas que utilizam o método, também viabilizou o acesso a informações, materiais e brincadeiras desenvolvidas pelas pessoas que fazem parte da Associação Orff do Brasil.
Biografia
Carl Orff nasceu em Munique, em 10 de julho de 1895, onde passou a maior parte de sua vida. Começou seus estudos musicais já aos cinco anos, aprendendo órgão, piano e violoncelo. As suas primeiras composições datam de 1911, inspiradas em poemas clássicos alemães. Estudou na Academia Tonkunst de Munique, onde terminou os seus estudos em 1914 e mais tarde estudou composição com Heinrich Kaminsk.
Em 1924 uniu-se a Dorotee Günther, fundando uma escola para o ensino da música, ginástica e dança. "Estas atividades" ele escreveu, "interessavam-me na medida em que cada vez mais se conectavam ao meu trabalho para o teatro". Desenvolveu um obra representativa na forma de musicais, por isso havia uma preocupação em reunir várias habilidades artísticas em uma só pessoa. O cantor também era quem encenava e dançava em suas obras. A mais famosa delas é Carmina Burana que estreou no ano de 1938 em Frankfurt, se tratando de uma Cantata Cênica. Foi a primeira de uma trilogia, seguida de Triunfo de Afrodite e Catuli Carmina.
As obras de Carl Orff sofreram severas críticas de seus contemporâneos, sendo elas chamada de arcaicas. Isso se deu, em razão da exploração elementar de motivos rítmicos que se repetiam ao longo da obra, emprestando a ela um caráter primitivo.
"Orff porém se explicava, dizendo que os séculos XVII e XVIII haviam esgotado os recursos tradicionais, especialmente as formas de sonatas e a fuga, sendo por isso a sua opção por produzir obras essencialmente cênicas, obedecendo a processos de substituição dos desenvolvimentos por simples repetições uniformes de motivos, de frase ou movimentos inteiros."

Momento Histórico
"No século XVI e XVII houve a educação pública religiosa, quando os representantes da reforma protestante conclamavam aos governantes a disseminarem a educação elementar".
O século XVIII é caracterizado pelo movimento iluminista que combate a visão religiosa, o que culmina na revolução francesa, quando se firma com clareza o dever do estado em matéria de educação.
Século XIX é o século da educação pública, mas para as elites. O século XX da escola democrática. Acontece mundialmente a busca da democratização da escola, da universalização e prolongamento da escola fundamental através da difusão dos movimentos de renovação pedagógica".
No século XIX, as idéias iluministas pregavam a igualdade de direitos entre os homens, os burgueses, não eram mais aqueles que vivam do trabalho de seus servos e muito ao contrário disso, eram dinâmicos e o crescimento dos bens de produção exigiam a formação de pessoas para trabalharem na indústria que se expandia.
Todo este processo chegou no século XX mais amadurecido e após a primeira grande guerra mundial, os paises desenvolveram um sentimento nacionalista generalizado, indo em busca de reapropriarem-se de suas culturas, promovendo pesquisas folclóricas e o uso dele na obra de vários compositores, como podemos ver na obra de Villa Lobos, Bartok e também na pesquisa empreendida por Mário de Andrade aos sertões brasileiros em busca de uma identidade nacional.
O trabalho que serviu de base para o que hoje é o método Orff, foi resultado de uma série de programas educativos que Orff e Keetman realizaram para a rádio Bavária na década de cinqüenta. Considerando todo o pensamento que se produzira à cerca da universalização do conhecimento, também disseminado entre os conhecimentos musicais, deduzo que também este programa teria sido um esforço nesse sentido, visto que os conceitos que o embasaram era muito amplo e não determinava idades ou âmbitos pedagógicos específicos. Era sempre embasado na integração da música, dança e linguagem.
O Método
Movimento
Improvisação
Socialização
Sobre o Movimento
"O corpo humano enquanto veículo de auto-expressão precisa ser melhor percebido, conhecido e amado. Aquele que se sensibilizar diante do infinito potencial de seu corpo passa a compreender melhor a si mesmo e a seu semelhante, respeitando esse poderoso agente comunicador de seus estados mais internos. Este corpo pode ser dançado pela música, cantado pela palavra, falado pelo movimento, reinterpretado em fim pelo indivíduo que se reconhece através de seus movimentos, posturas, expressões faciais, canto e uso da palavra falada.
Na história do homem encontramos o caráter religioso, social e solidário do fazer musical através do canto e da dança. Som e música se combinando à linguagem corporal para criar uma paisagem visual-auditiva onde o indivíduo se reintegra permanentemente à sua natureza espiritual, social e cultural. O corpo não é um veículo no qual nos acomodamos e que, a semelhança de um automóvel, nos leva para lá e para cá. ELE SOMOS NÓS. A divisão mente-corpo já não nos serve mais. Podemos afirmar hoje que todo o processo de conhecimento humano passa, invariavelmente, por este corpo indivisível, que é, portanto, a sede de toda a experiência humana."
A aprendizagem através do movimento surge do principio de que o corpo é nosso primeiro e principal instrumento e esta vivência deve vir em primeiro plano. O participante precisa palpar, ouvir, sentir, julgar e sentir prazer. A música e a dança são artes vivas e trabalha-las de uma forma prática faz com que o indivíduo se desenvolva física e emocionalmente, aprofundando a compreensão do mundo que o rodeia.
As atividades são sempre preparadas de forma que o intuitivo leve a conceitos teóricos. Tudo deve ser vivenciado corporalmente antes. É igualmente importante o papel ativo do participante nos movimentos e produção sonora.
"Rudolf Laban (1879 – 1959), pesquisador do movimento humano, baseou-se nos princípios universais do movimento, percebendo-o como sendo ao mesmo tempo funcional e expressivo. Isto significa que quaisquer que sejam as tarefas das pessoas elas também experimentam algo de si mesmas através de seus movimentos. O método Laban é um sistema que descreve e compreende o movimento através de seus quatro fatores componentes; FORÇA, TEMPO, ESPAÇO E INFLUÊNCIA – e relaciona as influências recíprocas entre as ações corporais e os processos mentais e emocionais."
Sobre a Improvisação
A criação, a composição e a improvisação são consideradas um aspecto fundamental para Orff. Explorar as possibilidades de um material sonoro repetindo, para depois criar um ritmo, uma melodia, uma dança, dar vida a um canto. São exemplos de atividades muito enriquecedoras, que podem atuar como elementos que elevem a auto-estima e desenvolva as habilidades artísticas e afetivas.
Sobre a socialização
A dimensão social tem uma grande importância. Cantar, dançar e tocar instrumentos musicais em grupo, cria um clima afetivo adequado para a aprendizagem. Em todas as culturas a música é uma forma de expressão interativa e de comunicação.
Aprender a se relacionar com o grupo tem um sentido especial na época em que vivemos, posto que cada vez menos as atividades diárias se voltam para a socialização das pessoas. As crianças passam a maior parte seu tempo voltada para o computador, interagindo com personagens virtuais comandadas por eles. O exercício da socialização pretende desenvolver as capacidades individuais.
Técnicas
As técnicas de ensino do método podem ser praticadas de diversas maneiras, usando o instrumental Orff ou criando brincadeiras que atendam aos objetivos mencionados acima.
Lista de instrumentos
Maracás, caixa chinesa, bloco de madeira, clavas, castanholas, címbalos, triângulo, pandeireta, guizeira, caixa de rufo, bombo, Tan-tan, campainhas, matracas, reco-reco, timbales, bongôs, tamborim, duplo tamborim, jogos de sinos soprano e alto, metalofones soprano, alto e baixo, xilofones soprano, baixo e alto.
Com freqüência acredita-se que o método só pode ser aplicado mediante o uso o instrumental criado e adaptado por Orff, o que não é verdade, pois o principal instrumento utilizado é o corpo.
Anexo parte da apostila do curso Regente educador e Educador Regente, com brincadeiras desenvolvidas pela professora Mayumi Takai e Gisele Cruz que são integrantes da Associação Orff Brasil. No curso elas apresentaram coreografias e brincadeiras feitas com o corpo e o canto que são muito divertidas, proporcionam a aprendizagem e não se utilizam do instrumental Orff.
Teoria
A teoria deste método se utiliza fundamentalmente dos movimentos, para a leitura melódica usa o dó fixo e manosolfa. Atualmente os educadores Orff também se utilizam da nomenclatura desenvolvida por Kodaly para as figuras rítmicas.
Semínimas – ta
Colcheias – ti-ti
Semi-colcheias – ti-ri-ti-ri
Aplicação positiva à realidade brasileira
(na minha opinião)
As possibilidades musicais que Orff nos dá são exemplos interessantes e contemporâneos que podem ser modificados e adaptados à realidade Brasileira. Para isso foi desenvolvido uma edição do Orff-Schulwerk, intitulado "Canções das Crianças brasileiras", com arranjos de Hermann Regner pela editora SCHOT.
Desta forma adequada a um repertório familiar às crianças brasileiras, me parecem muito positivas as intervenções conceituais sobre o desenvolvimento integrado do ser humano através da música.
Conclusão
O conhecimento de vários métodos e pensamentos sobre metodologia musical, me tem permitido refletir sobre a minha atuação pedagógica e principalmente ter várias opções a serem usadas nos vários contextos a que um educador é exposto, desta forma enriquecendo as minhas possibilidades de realizar um bom trabalho.

Bibliografia

1. O ESTADO DE SÃO PAULO – 31/03/1982 – p24
2. THE NEW GROOVE – Dictionary Of Music and Musiciansv - 1980
3. CORREIO DO POVO – São Paulo: 01/04/1982, p15.
4. SAVIANI, Demerval. A nova lei da educação: LDB, tragetória, limites e perspectivas. 9 edição. Campinas SP: Autores Associados . 2004.
5. VERENA, Maschat - LAS IDEAS PEDAGÓGICAS EM EL ORFF-SCHULWERK . Orff Espanha Vol 1 – 1999 P5.
6. SCAGLIA Yara - APOSTILA DO ESPAÇO ARTE INTEGRADA.

Por Liebe Lima

Comentários

Unknown disse…
Achei muito interessante seu artigo sobre Orrf. E de que forma posso me inteirar mais do método Orff?

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